Arquitetura contemporânea e áreas históricas

Intervenções contemporâneas em cenários históricos são uma controversa constante da arquitetura. Vide a Pirâmide do Louvre ou a estrutura…

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Intervenções contemporâneas em cenários históricos são uma controversa constante da arquitetura. Vide a Pirâmide do Louvre ou a estrutura metálica incrustada no Royal Ontario Museum, de Toronto, e os questionamentos que esses projetos alimentaram quando erguidos.

Críticos das construções arrojadas argumentam que elas parecem fora de lugar e são fruto de um “complexo faraônico’. Já admiradores apreciam a justaposição e o contraste entre estilos.

“Até que ponto o novo trabalho deve se parecer e passar a mesma impressão que as estruturas que o contornam? Faz sentido que a nova estrutura se destaque ou se encaixe?”, questiona o site “99 Percent Invisible”, dedicado a destrinchar temas do dia a dia.

O debate em torno do tema envolve a preservação do patrimônio histórico e a funcionalidade dos espaços urbanos. Da mesma forma, há de se considerar que estilos e gostos mudam com o tempo, e o que parece inapropriado em uma época torna-se ícone quando observado anos mais tarde. Esses são alguns dos elementos que compõem a discussão sobre a paisagem urbana híbrida:

DESTACAR-SE

Segundo o jornalista Kurt Kohlstedt, do “99 Percent Invisible”, um “rompimento explícito” com o cenário tradicional é feito muitas vezes para chamar atenção para o estabelecimento que recebe a intervenção. É o caso de museus, por exemplo, que pretendem se destacar na miríade de antigas construções semelhantes. Além disso, a ousadia de estilo pode adicionar significância cultural ao espaço.

Há inúmeros exemplos de galerias que destoam arquitetonicamente da cidade que as abrigam, como é o caso do Jewish Museum, em Berlim. Arquiteto responsável pelo projeto, o polonês Daniel Libeskind, filho de sobreviventes do holocausto, deu um significado histórico à extensão de ângulos afiados que fez para o museu. Ela deveria servir como uma “viagem emocional” pela complexa história judaica em Berlim.

Expoente do arrojo, o canadense Frank Gehry é conhecido por suas fachadas metálicas esvoaçantes, que apareceram pela primeira vez no Weisman Museum, em Minneapolis, EUA – e foram reproduzidas posteriormente no Museu Guggenheim (Bilbao, Espanha), no Experience Music Project (Seattle, EUA), no Disney Concert Hall (Los Angeles, EUA) e no Hotel Marqués de Riscal (Elciego, Espanha), entre outros lugares.

Após décadas de repetição, o arquiteto passou a ser criticado por abusar do formato, aplicando-o a diferentes espaços sem critério aparente: além de museus e casas de show, as lâminas de metal embrulhadas passaram a adornar o exterior de hotéis e até faculdades. “Aparentemente sem nenhuma consideração pelo local, propósito ou importância do ambiente em torno do prédio”, escreveu Kohlstedt sobre o estilo de Gehry.

REDEFINIR A PAISAGEM

Para além da polêmica criada quando de suas construções, algumas intervenções modernas em centros históricos tornaram-se por fim parte indispensável da paisagem. Paris tem três exemplos de ícones que foram inicialmente criticados, mas por fim aceitos.

O primeiro deles é a própria Torre Eiffel, hoje símbolo indissociável da capital francesa – e do país como um todo – mas ridicularizada e chamada de monstruosidade quando erguida no século 19. Da mesma forma, o Centro

Pompidou, com suas tubulações externas, foi recebido com estranhamento a princípio, até tornar-se ponto inaugural de uma arquitetura pós-moderna.

Por fim, o mais recente, a pirâmide de cristal de I.M. Pei posta em frente ao Louvre, chamada de anacrônica, inadequada e desrespeitosa com a construção renascentista que a cerca. Tornou-se, por fim, cartão postal da cidade.

Em São Paulo há também um exemplo clássico: o pórtico de Paulo Mendes da Rocha, erguido no meio da praça do Patriarca, no centro histórico da cidade. O átrio metálico, com 40 metros de vão, marca os limites entre o centro velho e o novo.

ENQUADRAR-SE

Uma grande preocupação envolvendo a mistura de estilos é que novas estruturas se tornem elementos descoordenados nos já caóticos cenários urbanos. “Imagine um mundo cheio de prédios desenhados para serem novos e diferentes”, diz Kohlstedt.
Tendo isso em mente, alguns novos empreendimentos preservaram as fachadas antigas, modernizando apenas o interior das construções (que por vezes extravasava para cima ou para os lados, como nos exemplos abaixo). É uma forma também de preservar pedaços urbanos de história, enquanto reaproveitando um espaço que estaria perdido por ser obsoleto. De toda forma, do ponto de vista estético, essa estratégia tampouco é ponto passivo.

O EDIFÍCIO DE GREENWICH VILLAGE

Em 1970, um edifício ao estilo “greek revival”, localizado no bairro de Greenwich Village, bairro central de Nova York, foi ao chão devido a uma explosão. Após o incidente, tradicionalistas esperavam por uma reconstrução fiel ao prédio original, enquanto modernistas vislumbraram um substitutivo de aço e vidro.

Os arquitetos responsáveis pela reconstrução optaram por uma espécie de meio termo. O resultado final foi um prédio feito com os tradicionais tijolos alaranjados, com janelas e alturas compatíveis com o entorno. No entanto, a fachada angular destoava das faces planas vizinhas, marcando sua originalidade.

O BANCO DE MONTREAL

Quando o governo do Canadá exigiu, em 2012, uma renovação da histórica sede de um dos maiores bancos do país, arquitetos se viram em meio ao desafio de criar uma extensão que fosse respeitosa ao edifício principal, ao mesmo tempo que funcional.
O resultado foi um prédio anexo que acena para o original, no material utilizado, proporções e escala. Além disso, ele parece voltado para a lateral, chamando a atenção de transeuntes para o primeiro prédio. Mantém, porém, um grau de separação: o novo é ligado ao antigo por um corredor de vidro.

Via: Nexo Jornal | Imagens via Google

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